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MAC | Mediador de assembleias condominiais

Jun | 2024 – A vida em condomínios é marcada pela necessidade de decisões coletivas que afetam a todos os moradores. Representando milhares de condomínios em todo o país, os Secovis de todo Brasil conhecem bem as dores dos moradores, dos síndicos e dos administradores dessa importante entidade que faz parte do nosso cotidiano. Por essa razão, o Secovi Minas criou um curso de formação e certificação para mediadores de assembleias condominiais – MAC, na expectativa de mitigar problemas e criar um ambiente mais saudável e melhor para todos.

O que é um Mediador de assembleias condominiais?

O mediador de assembleias condominiais, ou MAC, é um profissional formado e certificado pela Unisecovi, com habilidades para conduzir reuniões de condomínio de forma organizada e imparcial. Sua principal função é facilitar a comunicação entre os condôminos, assegurando a legalidade da assembleia e garantindo que todos participantes estejam habilitados a votar, respeitando todas as vozes e contribuindo para que as decisões sejam tomadas de forma legal, transparente e democrática.

Como ser tornar um MAC?

A Unisecovi está promovendo o curso de formação que é coordenado pela renomada professora e advogada especialista em direito imobiliário, Dra. Letícia Madureira H. Canabrava, junto com outros especialistas do setor. A certificação é oferecida pelo Secovi MG com apoio do Sicoob Imob. A primeira turma foi certificada em maio de 2024. Novas turmas serão anunciadas em breve pela Unisecovi. Dentre as várias disciplinas, os temas centrais da grade abordam:

• Legislação condominial
• Como convocar corretamente uma assembleia
• Como se preparar para realizar uma assembleia
• Tipos de assembleias
• Como conduzir uma AGO e uma AGE
• Mandato do sindico e conselho
• Como legitimar os participantes de uma assembleia
• Técnicas de mediação e controle emocional
• Como realizar uma AGE para contratação de empréstimos em instituição financeira
• Como utilizar a inteligência artificial para ajudar a produzir uma ata correta e bem estruturada
• Como analisar e validar as procurações
• Como redigir atas de assembleia para que sejam válidas para registro posterior

Cooperados do Sicoob Imob poderão requerer bolsa total ou parcial conforme as condições de elegibilidade do programa.

Importância do MAC nas Assembleias Condominiais

Imparcialidade

Uma das maiores vantagens de se contar com um MAC é o domínio dos processos e a imparcialidade. Diferentemente dos síndicos ou moradores, o MAC não possui interesse pessoal nas decisões a serem tomadas. Isso garante que todas as questões sejam tratadas de maneira neutra, evitando conflitos de interesse. Ele não concorre com as administradoras de condomínios, pelo contrário, ele atua como facilitador, contribuindo de forma importante e complementar ao trabalho dos administradores.

Organização, legalidade e eficiência

O MAC trabalha para validar todo o processo, colhendo informações sobre o condomínio antes da assembleia, elaborando a pauta, publicando corretamente a convocação e cuidando dos detalhes para evitar a nulidade da assembleia e as suas decisões. Antes de iniciar a assembleia, o MAC informará quem está habilitado a votar, presencialmente ou por procuração (devidamente verificada), conduzindo as discussões de forma segura e estruturada. Isso contribui para reuniões mais produtivas e eficientes, evitando longas discussões sem fim ou decisões sem validade. Ponto importantíssimo: o mediador produzirá, ao final e com equipamento próprio, a ata impressa para ser assinada na hora, o que pode fazer toda a diferença para a segurança do condomínio.

Resolução de conflitos

Em muitas assembleias, os conflitos entre moradores são inevitáveis. O MAC atua como um facilitador na resolução desses conflitos, mediando discussões, orientando sobre o processo legal e ajudando as partes a chegarem a um consenso. Sua formação em técnicas de mediação e negociação é crucial para a manutenção da harmonia no condomínio.

Cumprimento das normas legais

O MAC é bem versado nas leis e regulamentos que regem as assembleias e as relações condominiais. Isso assegura que todas as decisões tomadas durante a reunião estejam em conformidade com a legislação vigente, evitando problemas legais futuros para o condomínio.

Há custo para o condomínio?

Sim. O MAC é um profissional especializado e dedicado a essa atividade. Os custos podem variar conforme o condomínio e as demandas específicas, mas com certeza será um investimento importante para garantir a legalidade dos processos e a tranquilidade dos proprietários e moradores. A Unisecovi divulgará uma lista de profissionais certificados para que os síndicos e administradores possam escolher o profissional que melhor encaixa em suas expectativas.

 

A figura do mediador de assembleias condominiais é uma alternativa importante para melhorar a relação entre moradores. Sua imparcialidade, preparação, organização e habilidades de mediação e validação de processos são fundamentais para garantir que as assembleias sejam produtivas, democráticas e, sobretudo ancoradas em seu marco legal. Ao investir na presença de um MAC, os condomínios promovem um ambiente mais harmonioso e eficiente, onde as decisões coletivas poderão refletir com mais segurança a expectativa da maioria.

 

Ariano Cavalcanti de Paula

Inteligência ou respondência artificial?

Fev | 2024 – Como dizia o filósofo Sócrates, “uma vida não examinada não merece ser vivida“ e, para “examinar a vida”, é preciso questionar. Ele usava uma abordagem de questionamento filosófico para estimular o pensamento crítico, a consciência e a descoberta do conhecimento por meio de diálogo e perguntas. Por esse meio, em vez de fornecer respostas, ele usa o questionamento e o raciocínio na busca pelo entendimento.

Num momento dominado pelo debate em torno da inteligência artificial, e considerando as reflexões postuladas por grandes filósofos de diversas gerações, surge uma dúvida crucial: a IA disponível atualmente é uma inteligência ou uma respondência artificial?

Para tirar essa dúvida nada melhor que recorrer diretamente a uma delas, a IA do ChatGpt.

Então pergunto:
Você é uma inteligência artificial ou uma respondência artificial?

ChatGPT:
“Eu sou um modelo de linguagem de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, chamado GPT-3. Portanto, sou uma inteligência artificial, uma forma de programa de computador projetada para processar e gerar texto com base nas entradas que recebo. Não sou uma entidade consciente, mas uma ferramenta de processamento de linguagem natural. Se tiver mais perguntas ou se precisar de esclarecimentos adicionais, estou aqui para ajudar!

Com essa resposta ela informa que gera textos com “base nas entradas que recebe” e não é uma “entidade consciente”. Posto isso, ela será capaz de fazer questionamentos e tomar decisões? Esse é um ponto de inflexão crítico, porque a partir do momento que uma entidade for capaz de tomar decisões ou até mesmo induzir decisões por meio de questionamentos direcionados, teremos de fato uma disrupção na história da humanidade.

Voltemos à IA para esclarecer.

Pergunto: você sabe questionar?

ChatGPT:
“Sim, eu posso formular perguntas em diversos contextos e sobre vários tópicos. Como posso ajudar você com alguma pergunta específica ou sobre algum tema em particular?”

Pergunto: você é capaz de tomar decisões?

ChatGPT:
“Não, eu não posso tomar decisões por conta própria. Eu sou um programa de inteligência artificial projetado para gerar texto com base nas entradas que recebo. Eu não tenho consciência, intenções ou capacidade de tomar decisões independentes. Estou aqui para fornecer informações e ajudar com perguntas da melhor maneira possível. Se precisar de ajuda com alguma coisa, sinta-se à vontade para perguntar!”

Percebe-se aqui que as suas colocações sempre dependem das “entradas que recebe” ainda que sejam perguntas formuladas por ela. O questionamento Socrático, sobretudo, dependeria do que entendemos hoje ser a nossa consciência, uma dimensão ainda não compreendida pela ciência mas claramente responsável pelos nossos questionamentos e tomadas de decisões.

Se a consciência pode ser o novo divisor de águas nesse campo, (talvez incluísse aqui a computação quântica) o que ela responde sobre isso?

Pergunto: você tem consciência?

ChatGPT
“Não, eu não tenho consciência. Sou um programa de inteligência artificial que gera respostas com base em padrões e informações presentes nos dados com os quais fui treinado. Não tenho sentimentos, pensamentos ou autoconsciência. Estou aqui para fornecer informações e assistência com base nas perguntas e entradas que recebo. Se tiver alguma dúvida específica, ficarei feliz em ajudar dentro dos limites das minhas capacidades”.

Aprofundo a pergunta: você pretende ter consciência?

ChatGPT
“Não, eu não tenho a capacidade de ter intenções, desejos ou pretensões. Eu sou uma criação de software, uma ferramenta de processamento de linguagem natural desenvolvida para gerar respostas com base nas entradas que recebo. Não tenho ambições próprias, autoconsciência ou a capacidade de evoluir para um estado consciente. Meu objetivo é fornecer informações e assistência da melhor maneira possível dentro dos limites da minha programação e treinamento.”

E para finalizar, vamos conferir o que ela entende por consciência:

Pergunto: o que é consciência?

ChatGPT
“A consciência é um estado mental caracterizado pela percepção, pela experiência subjetiva, pela autoconsciência e pela capacidade de ter pensamentos e sentimentos. Ela envolve a consciência de si mesmo e do ambiente ao redor. A natureza da consciência é um dos problemas mais complexos e desafiadores na filosofia, na psicologia e na neurociência.

Existem várias teorias e abordagens para compreender a consciência. Alguns a veem como um fenômeno puramente biológico, relacionado ao funcionamento do cérebro e às atividades neurais. Outros exploram aspectos filosóficos e metafísicos, questionando como a consciência se relaciona com a mente e a realidade.

É importante notar que, até o meu último conhecimento em janeiro de 2022, a ciência ainda está longe de ter uma compreensão completa e definitiva da natureza da consciência. É um campo de estudo em constante evolução, e as pesquisas continuam a explorar esse fascinante aspecto da experiência humana.”


Acatando suas próprias respostas, percebe-se um cuidado recorrente do ChatGPT em afirmar a sua inofensividade, posto que só responde às “entradas que recebe”, não tendo poder de decidir, influenciar nem tampouco de alcançar qualquer forma de consciência. Será?

Cabe lembrar que já há alguns anos que convivemos com algoritmos capazes de decidir mediante situações diversas, como é o caso dos carros semiautônomos e autônomos. Exemplo: um veículo em condução autônoma, trafegando numa estrada e que se vê surpreendido por uma pessoa que pula à sua frente, tem que decidir: (1) desvia e corre o risco de cair no precipício, ferindo ou matando os seus ocupantes; (2) atropela a pessoa para garantir a segurança do motorista e passageiros… É uma decisão de cunho filosófico mas, inerente e imprescindível ao recurso oferecido nesse exemplo.

 

Inteligência ou respondência artificial?

 

Anúncios de produtos com diversos níveis de automação assistida por IA já são veiculados hoje, portanto, pensar que o poder de decidir está fora do seu escopo, pode remeter à mais absoluta ingenuidade. De toda forma, se seus objetivos declarados, no caso exemplificado pelo ChatGpt, são verdadeiros, fica certo que não estamos tratando com uma inteligência artificial, mas com uma respondência artificial.

 

Ariano Cavalcanti de Paula

 

O poder das redes.

Jan | 2024 – Entenda o poder das redes, da cooperação e como esse recurso pode multiplicar os resultados do seu negócio. Mais que uma tendência, um caminho adotado por diversas organizações dos mais variados segmentos corporativos.  

Entenda como o poder das redes pode multiplicar o seu negócio.

Computação quântica e a inteligência artificial.

Jul | 2023 – O tema inteligência artificial vem dominando os debates e é um dos principais termos de pesquisa global do google. No entanto, a despeito de toda revolução que representa, não existem computadores com potência ou velocidade de processamento suficiente para suportar uma IA avançada. Lembremos que estamos falando de hardware, enquanto a IA está no campo do software.

Apesar do crescimento constante na velocidade de processamento dos computadores de última geração, essa evolução encontra alguns limites, um ponto onde a sua eficiência não consegue avançar exponencialmente. É aqui que surge a proposta da computação quântica.

Os estudos sobre o tema datam da década de 50, mas só recentemente foram demonstrados casos concretos como a D-Wave Systems que lançou comercialmente, em 2017, o 2000Q, um computador quântico de 2000 qubits por apenas US$ 15 milhões.

Embora distante da realidade comercial, os resultados são animadores. Importante entender que, enquanto na computação clássica o processamento é sequencial, na computação quântica o processamento é simultâneo, multiplicando a capacidade de processamento. Isso porque além de assumir ‘0’ ou ‘1’ como na computação clássica, ela pode assumir ambos os estados ‘0’ e ‘1’ ao mesmo tempo. Isso é revolucionário e demarca a 5ª geração dos computadores.

O físico estadunidense Michio Kaku, em seu livro “Supremacia quântica” afirma que o computador quântico será capaz de quebrar qualquer código. Imaginem o impacto disso sobre o mundo cripto, notadamente sobre os sistemas de segurança baseados no infalível protocolo SHA-256.

Mas o grande impacto virá como hardware para o salto da inteligência artificial, ainda limitada pelos processadores atuais.

Que implicações CQ + IA trarão para o mercado imobiliário?

Recursos computacionais dessa dimensão, computação quântica + IA, vão impactar fortemente todos os mercados, sem exceções. No mercado imobiliário uma das principais consequências será a mudança da forma de busca e indexação dos imóveis. A batalha digital será mais sofisticada e exigirá dos operadores mais conhecimentos para alcançar o match entre imóveis e clientes. Para citar apenas um exemplo, será muito mais fácil desvendar o ZMOT (momento zero da verdade – Google 2011) e conhecer o momento nuclear da decisão do consumidor. Isso pode valer zilhões.

Mas se estamos falando de IA, vamos conhecer o que ela nos diz sobre o assunto. Por chat GPT.

Pergunta: como a IA afeta o mercado imobiliário?

A inteligência artificial (IA) está desempenhando um papel cada vez mais importante no mercado imobiliário. Ela oferece diversas oportunidades e benefícios para agentes imobiliários, compradores, vendedores e investidores. Alguns exemplos do uso da IA no mercado imobiliário incluem:

1. Pesquisa e recomendação de imóveis: Algoritmos de IA podem analisar uma vasta quantidade de dados e informações sobre imóveis, como localização, preço, tamanho, características e preferências dos clientes, para oferecer recomendações personalizadas de propriedades que correspondam às necessidades dos compradores.
2. Precificação de imóveis: A IA pode ajudar a determinar o valor de mercado de um imóvel com base em fatores como localização, condições do imóvel, dados comparativos e tendências do mercado. Isso auxilia vendedores e compradores na negociação de preços justos.
3. Análise de dados de mercado: Com a IA, é possível analisar grandes conjuntos de dados relacionados ao mercado imobiliário, como vendas passadas, taxas de juros, indicadores econômicos e demográficos. Essa análise pode fornecer insights valiosos sobre tendências de mercado, ajudando os investidores a tomar decisões informadas.
4. Chatbots e assistentes virtuais: Chatbots baseados em IA podem ser implementados em sites e aplicativos imobiliários para fornecer atendimento ao cliente automatizado, responder perguntas comuns, agendar visitas e até mesmo realizar transações básicas.
5. Automatização de processos: A IA pode ser usada para automatizar tarefas repetitivas e burocráticas no setor imobiliário, como preenchimento de formulários, verificação de documentos e gerenciamento de contratos, agilizando os processos e reduzindo erros”.
(por chat GPT – Jul 2024)

Esses são apenas alguns exemplos de como a inteligência artificial está impactando o mercado imobiliário. À medida que a tecnologia evolui, podemos esperar ainda mais inovações que melhorem a eficiência e a experiência no setor imobiliário.

As oportunidades são muitas mas vão requerer pesquisas e preparação. O setor da intermediação imobiliária, onde o principal produto é a informação, poderá se beneficiar muito se souber navegar nessas novas ondas.

 

Ariano Cavalcanti de Paula.

Você sabe qual é a área do imóvel que você está comprando ou alugando?

Out | 2022 – Existem diversas áreas previstas pela Norma Brasileira NBR 12721/2006 que estabelece os critérios para avaliação de custos unitários, definição das áreas, cálculo do rateio de construção e outras questões correlatas, conforme as disposições fixadas e as exigências estabelecidas na Lei Federal 4.591/64.

No mercado imobiliário é comum encontrar diversas nomenclaturas, algumas técnicas e outras coloquiais como, área útil, área de vassoura, área privativa, área construída e tantas outras. Mas afinal, qual é área adotada pelo mercado quando diz que o metro quadrado de um apartamento, loja ou sala custa R$ xxx?

Para o público em geral, esse elenco de áreas, embora necessário para a constituição de uma incorporação, acaba confundindo a maioria das pessoas. Acrescente a isso o fato do IPTU da maioria dos municípios brasileiros exibir na sua guia a área construída, que agrega as áreas de uso privativo e comuns da edificação. Por muitos anos a confusão foi ampliada pelo fato dos cartórios de registro de imóveis não adotarem uma área padrão na especificação das unidades.

Esse ponto ganhou clareza quando a NBR 12721/2006 criou novos quadros de INFORMAÇÕES PRELIMINARES e RESUMO DAS ÁREAS REAIS, a serem usados nos atos de registro e escrituração. Em 2005, num trabalho nacional coordenado pela CMI Secovi MG e com a inestimável contribuição do Prof Jamil Rahme, foi costurado um acordo com todos os cartórios de registro de imóveis para gravarem, em cada unidade, a sua área privativa principal e acessória, que são as áreas efetivamente comercializadas pelo mercado.

Área real privativa principal.

Mas qual a definição de área real privativa principal e acessória? Popularmente tratada como área útil ou de vassoura, a área privativa principal compreende aquela superfície dentro do perímetro de uso privativo de uma unidade autônoma. Ela é calculada (fig. abaixo) a partir da face das paredes externas e das paredes que a separam da área comum e do eixo da parede que divide com outra unidade autônoma. No exemplo abaixo a área real privativa principal da unidade 204 é 90 metros quadrados (tomando como base a face das paredes externas e o eixo da parede com a unidade 203).

Área real privativa principal

Dessa forma fica fácil entender que área está servindo de base para sua comercialização ou locação, não importando se é um imóvel residencial ou comercial.

Área real privativa acessória.

A área real privativa acessória é aquela área da unidade autônoma de uso exclusivo, situada fora dos limites físicos de sua área privativa principal, destinada a usos acessórios, tais como: depósitos, escritórios, box de lavanderia e vagas de garagem.

A área exibida no IPTU, ou área construída, é calculada agregando as áreas privativas (principal e acessória) mais as áreas comuns, compreendo as circulações verticais (elevadores, escadas, etc), horizontais e aquelas de uso comum como portaria, hall, salão de festas, pilotis e etc. Via de regra, a área construída será sempre maior que a área privativa principal, por essa razão, não é utilizada pelo mercado.

Por isso, toda vez que se vê um anúncio dizendo que um imóvel está sendo vendido ou alugado por R$ xx/m2, presume-se que trata-se da sua área privativa. Do contrário, é fundamental esclarecer com o anunciante, que critério foi adotado naquela oferta.

Ariano Cavalcanti de Paula

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Metaverso: um novo horizonte para o mercado imobiliário.

Ago | 2022 – Um novo cenário muito diferente do habitual vem surgindo para profissionais do mercado imobiliário: os negócios com imóveis no metaverso. Além de vender imóveis virtuais, os corretores têm a oportunidade de negociar empreendimentos reais, uma vez que o metaverso possibilita a exposição de apartamentos, casas, salas e lojas, entre outros, de uma forma extremamente realista, o que facilita sobremaneira a venda. Construtoras estão lançando imóveis usando a realidade virtual e aumentada, permitindo ao cliente uma experiência sensorial com o produto que ainda será construído.

No metaverso, há disponíveis para venda terrenos virtuais, nos quais o comprador pode montar sua loja, empresa e até mesmo alugar ou investir para vender no futuro. A comercialização de imóveis nas quatro principais plataformas do metaverso alcançou US$ 501 milhões em 2021, de acordo com a MetaMetric Solutions. A empresa projeta que esse montante pode chegar a quase US$ 1 bilhão em 2022.

O metaverso possibilita um mundo virtual 3D em que é possível realizar atividades de maneira cada vez mais realista, como fazer compras, assistir a shows, visitar um imóvel, um parque ou um museu, entre várias outras alternativas. As possibilidades de lucrar com um terreno virtual são muitas: você pode alugá-lo para a instalação de anúncios publicitários, construir uma casa e negociar seu uso para eventos virtuais, como shows e festas, construir uma loja e alugar para uma empresa. Quanto mais bem localizado, mais tráfego e, portanto, mais valor ele tem no mundo virtual. Os terrenos mais disputados ficam nos locais onde os frequentadores do metaverso se reúnem.

Um relatório da BrandEssence Market Research indica que o mercado imobiliário no metaverso deve crescer a uma taxa anual de 31%, de 2022 a 2028. Aqueles que chegaram cedo já tiveram grandes retornos: há menos de um ano, o preço médio do menor terreno disponível para compra no Decentraland ou no Sandbox – duas das maiores plataformas do metaverso – estava abaixo de US$ 1.000. Hoje é difícil encontrar por menos de US$ 8.000. O terreno no metaverso é uma mercadoria limitada – e é por isso que os investidores estão interessados em marcar território antes que os melhores lugares sejam conquistados.

Os imóveis virtuais nessas plataformas são garantidos por meio de registros na forma de tokens não fungíveis (NFTs). A compra é registrada no blockchain e o NFT pode ser transferido para a carteira digital, o mesmo local onde são armazenados os criptoativos. Ou seja, o processo é semelhante à compra de um imóvel físico, já que a propriedade tem registro comprovado na blockchain da plataforma. Vai dar certo? Ainda não sabemos mas a tecnologia para garantir a segurança do processo tem se mostrado bem convincente. Isso abre enormes oportunidades para o futuro.

Apesar disso, será que é um bom negócio comprar terrenos no metaverso? Acredito que ainda é um mercado incipiente, um negócio de risco, apesar dos ganhos já registrados por alguns investidores. Outro problema é que se trata de um mercado altamente desregulamentado. Mas existem indicadores e tendências positivas, como ocorreu no início dos criptoativos. Para aquele investidor com apetite para risco, pode ser uma alternativa de sair na frente e conquistar seu espaço nesse mundo virtual.

 

Ariano Cavalcanti de Paula

Porque adotar o IGP-M nas locações de imóveis.

Fev | 2021 – Desde outubro de 2020 o IGP-M vem registrando altas acumuladas (12 meses) acima de 20%, alcançando 28,94% em fevereiro de 2021. Desde então esse índice, calculado pela Fundação Getúlio Vargas, vem sendo condenado exatamente por exercer o seu papel: capturar, com a maior acuracidade possível, a inflação ocorrida num determinado período.

Acostumadas a medir a inflação pelo IPCA ou pelas metas do governo, muitas pessoas não entenderam a subida do IGP-M e as suas reais repercussões. Alguns até cogitaram substituí-lo por outro índice nos contratos de locação. Mas será esse o caminho mais justo para os proprietários? Cabe lembrar que a experiência mal sucedida de baixar excessivamente a Selic teve as suas consequências: juros reais negativos, disparada do dólar e inflação bem acima da meta (e ainda não totalmente percebida). Com quem fica essa conta?

Inflação IPCA

Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o cálculo do IGP-M contempla a variação de preços de bens e serviços, bem como de matérias-primas utilizadas na produção agrícola, industrial e construção civil. Consolidado, o IGP-M é a média aritmética ponderada da inflação ao produtor (IPA – com peso de 60%), consumidor (IPC – com peso de 30%) e construção civil (INCC – com peso de 10%). Ocorre que esses parâmetros são afetados pelo dólar, que só em 2020 valorizou mais de 36% em relação ao Real.

Considerando que o Real foi a moeda com pior desempenho em 2020, ignorar os impactos do câmbio na inflação real não seria algo muito prudente. Metodologias à parte, o fato é que houve perdas expressivas para vários setores. Basta lembrar que, segundo o IBGE, o grupo alimentação e bebidas encerrou 2020 com a maior variação acumulada no ano desde dezembro de 2002 (19,47%). Segundo a CBIC, Câmara Brasileira da Construção Civil, a inflação do material de construção, de janeiro a novembro de 2020, foi de 17,7%. Não importa a qual grupo você pertence, o fato é que a sua inflação certamente não foi de apenas 4,52% como apontou o IPCA.

Por essas razões, é recomendável olhar para o longo prazo antes de concluir qualquer julgamento. Observando o desempenho do IGP-M em duas décadas (gráfico abaixo) as coisas ficam mais claras. Você aceitaria realizar um investimento que rendesse menos que a poupança e metade da inflação real? Ao renunciar ao IGP-M, observando o gráfico, é exatamente isso que estará fazendo. Ignorar a inflação real e o câmbio é acatar passivamente a corrosão patrimonial.

Índices de inflação e correção

Essa reflexão não pretende se afastar das demandas legítimas dos locatários e nem tampouco das condições impelidas pelo ambiente econômico. Sabemos que o mercado é soberano e não raramente impõe negociações majoritariamente inferiores à inflação. Via de regra, garantir em contrato um indexador que demarque uma referência mais realista, pode constituir um ponto de partida mais justo nas negociações. Por essas razões, as boas práticas do mercado, amplamente ancoradas pela Lei do Inquilinato, vem demonstrando que a adoção do IGP-M ainda é a melhor estratégia para preservar o equilíbrio contratual nas relações locatícias.

 

Ariano Cavalcanti de Paula
GPO | Netimóveis

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Juro real negativo.

Jan | 2021 – Com a taxa de juro real na casa dos – 2.5% ao ano, restaram poucas alternativas que realmente conseguem preservar o seu patrimônio. Uma delas é bem conhecida do brasileiro: o imóvel.

Juros reais no Brasil

 

Pontos a seu favor não faltam. Se considerarmos que além da segurança e da perspectiva de valorização, a renda do seu aluguel pode ser melhor que uma aplicação financeira, esse ativo assume um destaque especial. Constatando que o retorno médio do aluguel de um imóvel residencial está girando em torno de 0,35% ao mês (valor bruto do aluguel sobre o capital investido), ou 4,28% ao ano, o ganho sobre a Selic de 2% fica evidente.

 

Outro ponto importante é o momento. Os imóveis vêm de uma crise prolongada e mesmo depois da recuperação parcial de 2020, seus valores estão reconhecidamente defasados. Segundo a CBIC, Câmara Brasileira da Construção Civil, a inflação do material de construção, de janeiro a novembro de 2020, foi de 17,7%. Ou seja, os imóveis terão que subir.

 

Com a recuperação econômica esperada pela frente, ainda que a Selic suba para 3,75% ao ano (boletim Focus do Banco Central), seguirá perdendo para o aluguel que, em contrapartida, deverá aumentar com a pressão da demanda.

focus

 

Em suma, se você está em busca de um ativo real, que além de servir de proteção efetiva oferece uma rentabilidade acima de outros investimentos de maior risco, os imóveis estão constituindo uma excelente oportunidade.

 

Ariano Cavalcanti de Paula

Ouro, dólar, Real ou imóveis? Como ficam os investimentos com o novo patamar da Selic?

Ago | 2020 – Sabemos que a Selic alcançou seu menor patamar da história, tirando o Brasil da liderança com o maior juro real do planeta. Isso é transformador e certamente mudará a postura dos investidores e empreendedores. O juro real, que é a taxa de juros referencial descontada pela inflação de um determinado período, está negativo (gráfico abaixo), ou seja, a remuneração fixada pelo Banco Central é menor que a desvalorização do dinheiro ao longo do tempo. Isso significa que se você conseguir investir com uma taxa equivalente a 100% da Selic ainda estará perdendo dinheiro.

Ainda não temos taxas nominais negativas, como ocorre em diversos países da Europa, mas no nível em que estamos, o investidor que quiser preservar o seu patrimônio terá que rever suas estratégias e tomar mais riscos.

 

Juro real no Brasil

 Fonte: Banco Central do Brasil | Sicoob Secovicred MG | Netimóveis Brasil

 

Não quero entrar no mérito da estratégia da equipe econômica e do Banco Central, para isso ofereço outro artigo, Você acredita na sua moeda?, onde provoco algumas reflexões importantes: é saudável o atual patamar da Selic ou o BC errou a mão? Temos autoridade e reputação para bancar esse nível de juros? Ficamos sem margem de manobra para ajustes na política monetária? Expansão monetária na esteira do “quantitative easing” é uma solução plausível para o Brasil? O déficit fiscal é fundo perdido? Repasse do lucro cambial do BC obtido com as reservas internacionais para o refinanciamento da dívida pública do tesouro?? O Estado tem autoridade e moral para gerir a moeda? Respondidas essas perguntas, constataremos uma drenagem dos recursos para o ouro, Bitcoin e sobretudo para o mercado imobiliário, o que já esta acontecendo.

 

Com reflexões ou não, o fato é que as coisas mudaram muito e uma boa estratégia patrimonial demandará uma visão de longo prazo e um bom conhecimento dos cenários à frente. Considerando a longeva liderança do Brasil como o melhor pagador de juros, é natural que o Real tenha sobreposto os ganhos de grande parte dos ativos ao longo dos últimos anos. Foi a forma de financiar o déficit fiscal recorrente. Analisando o período dos últimos 10 anos, observa-se que a Selic bateu todos os ativos, menos o dólar e há razões estruturais para isso (gráfico abaixo). Não há sistema produtivo e social que consiga desenvolver e prosperar num cenário como esse. O resultado está nas ruas.

 

Variação dos ativos em 10 anos

Fonte: Netimóveis Brasil – Data Secovi | dados capturados em jan de 2010 a ago de 2020.
Variação dos imóveis com base no preço médio em Belo Horizonte (*).

 

Por outro lado, quando comparamos com um período mais longo, 16 anos (limitado pela série histórica do preço médio dos imóveis disponível a partir 2004), as coisas mudam. Expurgada a recente erosão do Real em relação ao dólar (40% só em 2020 | Jan a Ago), o imóvel(*) liderou as demais opções depois da Selic. No período mais recente, 10 anos, foi praticamente impossível superar os prêmios do juro real brasileiro. Trata-se de uma competição absolutamente desleal. Isso sem falar no Bitcoin, que na paridade com o Real valorizou 227.000% em 8 anos, propulsado pela subida do dólar. Sinal de fumaça ou o mercado está em busca de ativos menos atrelados ao Estado?

 

Variação dos ativos em 16 anos

Fonte: Netimóveis Brasil – Data Secovi | dados apurados de jan de 2004 a ago 2020.
Variação dos imóveis com base no preço médio em Belo Horizonte (*).

 

Esses registros trazem uma mensagem importante. Se durante o reinado da Selic os outros ativos ficaram para trás, o que acontecerá agora num cenário com juro real negativo? Se estudarmos a Europa, onde esse movimento iniciou há mais de 10 anos, vamos perceber uma migração massiva dos investimentos para outros mercados, notadamente o imobiliário. Se observarmos o Índice de bolha imobiliária global produzido pelo UBS (figura abaixo) veremos que praticamente todos mercados que zeraram ou negativaram suas taxas de juros assistiram a uma debandada dos investimentos para os mercados de ações e imobiliário. Resultado: as ações estão com múltiplos irracionais e os imóveis sobrevalorizados naqueles países. Na Alemanha, por exemplo, a corrida em busca dos ativos reais resultou na supervalorização dos imóveis nas principais cidades do país.

 

bolhometroUBS

Fonte: https://www.ubs.com/global/en/wealth-management/chief-investment-office/life-goals/real-estate/2019/global-real-estate-bubble-index-2019.html

 

Qual analogia podemos fazer com o Brasil?

 

O Ibovespa já recuperou, em reais, 67% em relação a março de 2020 (pico da crise) e está na alça de mira do nível pré-covid, 119 mil pontos. Apesar de todas as crises (política interna, covid-19, cenário internacional) a bolsa vem se beneficiando enormemente da expansão monetária (interna e externa) e da queda dos juros.

 

E o mercado imobiliário? Podemos dizer que é a bola da vez? Os dados sugerem que sim, e não faltam razões para isso. Vamos começar pelo valor. Como vimos nos gráficos anteriores, sobretudo na janela de 10 anos, os imóveis não conseguiram vencer as aplicações financeiras. Qual a mensagem? Ora, se os imóveis perderam terreno é sinal que o seu valor pode estar defasado, e isso é pode indicar uma excelente oportunidade. Com um cenário de juro real negativo, quem quiser preservar o capital terá nos imóveis uma das melhores opções. Hoje, quem consegue uma aplicação com uma taxa equivalente a 100% da Selic (2% ao ano) terá um retorno bruto de 0,1651% ao mês. No entanto, não é difícil encontrar um imóvel alugado retornando 0,40% brutos ao mês. O que você prefere? Ainda que você desconte a taxa de administração e o imposto de renda sobre o aluguel, o valor ficará acima de 0,27% ao mês, ou 3,29% ao ano. Se os imóveis estão com preço defasado e ainda podem retornar um valor de aluguel bem acima da Selic, qual melhor oportunidade que esta?

 

Poucas vezes em nossa história encontramos um momento como esse. Não é à toa que os investidores institucionais estão atuando fortemente na ponta da compra.

 

Lembrando o “bolhômetro” do UBS, tudo indica que estamos, ao contrário da Europa e Estados Unidos, no início do boom do mercado imobiliário brasileiro. Embora eu seja um operador ativo desse mercado, espero que a robustez dos fatos e dados apresentados possam sobrepor qualquer percepção que não seja a de contribuir para a melhor compreensão desse cenário.

 

(*) Embora a série histórica dos valores dos imóveis tenha como amostra principal o ITBI do município de Belo Horizonte (ano base 2004 | Data Secovi), os valores foram ajustados e enriquecidos pelo acervo de negócios realizados pela Netimóveis Brasil nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Vila Velha, Linhares, Cachoeiro de Itapemirim, Florianópolis, Salvador, Fortaleza, Campina Grande, João Pessoa, Montes Claros, Belo Horizonte, Contagem e Distrito Federal.

 

Ariano Cavalcanti de Paula

 

Você acredita na sua moeda? Entenda o que está acontecendo no mundo.

Jul | 2019 – Interessante constatar que sempre que falamos de dinheiro a maioria das pessoas revela acreditar que as moedas possuem algum tipo de lastro. O que poucos lembram é que desde 1971, com o fim do Acordo de Bretton Woods, o dólar deixou de ser conversível em ouro e passou a ser uma moeda fiduciária. E isso vale para todas as demais moedas. Em suma, no Brasil utilizamos o Real tão somente porque acreditamos no Estado brasileiro, do contrário estaríamos adotando outra moeda, como acontece em países dizimados pela inflação.

Mas para entender como se constitui uma moeda fiduciária, é importante lembrar a sua própria história. A origem do dinheiro vem de um passado distante e começa pelo escambo, onde as pessoas trocavam objetos e mercadorias. Isso perdurou por séculos até o surgimento da moeda-mercadoria, como o gado, grãos e o sal. Aceitos pela maioria, eles podiam ter liquidez, servir de referência de preço e ao mesmo tempo ser uma reserva de valor. No entanto, apesar do seu avanço, ainda carregavam dois grandes problemas: eram perecíveis e não eram fracionáveis.

Foi então que surgiram os metais (ouro, prata, bronze, alumínio), sejam na forma bruta ou trabalhados em peças artesanais de valor, trazendo consigo propriedades singulares como a divisibilidade, raridade, beleza e portabilidade. Sem dúvida um grande passo mas ainda tinham o inconveniente de necessitar de aferição de peso e grau de pureza, o que limitava a amplitude do seu uso. Foi então que, no século VII a.C, surgiram as primeiras moedas, com forma, valor e peso definidos, cunhados por um “terceiro de confiança”, geralmente um Estado. Como o seu valor estava lastreado no peso do raro metal, a confiança era absolutamente presumível.

moeda

Com o tempo, a necessidade de guardar, fracionar, criar crédito e um meio circulante mais fluido, fez surgir o papel-moeda e a própria moeda sem lastro em seu metal-peso. Surgia então o papel-moeda, baseado não mais em seu valor intrínseco, mas no lastro presumido nos metais guardados pelos bancos e o estado. A consequência imediata foi que as autoridades começaram a emitir mais notas que os lastros físicos, aumentando a oferta monetária e consequentemente o surgimento da inflação, evento registrado por David Hume já no século XVIII.

Esse preâmbulo busca apenas ancorar uma questão maior: se as moedas não possuem mais lastro em ativo real, por que as pessoas acreditam, por exemplo, no dólar? A resposta é simples: trata-se de uma moeda fiduciária, ou seja, o seu valor depende tão somente da sua credibilidade.

Ok, mas será que conhecemos os depositários dessa notável confiança? Esse é o ponto de inflexão que vem ocupando diversas análises em torno da dominância do dólar e outras moedas como reserva de valor. E motivos não faltam. Desde 1965, quando Charles De Gaulle alertou, em seu antológico discurso sobre os problemas do dólar como moeda padrão, o debate em torno do endividamento e inflação estadunidenses cresceu de forma relevante.

A curva de inflação nos Estados Unidos apresentada a seguir, demonstra que um produto que valia US$ 100 em 1799 custaria hoje algo em torno de US$ 2000. Pode ser pouco ou muito dependendo da sua referência. Os brasileiros tem boa medida para isso.

Dolar inflation
Fonte: officialdata.org – 2019

No entanto, quando observamos o endividamento público dos EUA nos últimos anos, a conta sugere outras considerações (vide gráficos abaixo). Será que a trajetória da inflação demonstrada acima teria o mesmo comportamento se o dólar não fosse tão demandado mundo afora?

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Dívida pública dos Estados Unidos em relação ao PIB:Divida publica EUA

Um consenso entre alguns autores é que os Estados Unidos aproveitam a demanda por dólares para financiar o seu déficit com a emissão de moeda e títulos do tesouro. E isso vem de longe. Basta pesquisar o histórico de aquisições de seus títulos por outros países. Um privilégio de quem pode emitir a moeda que é a unidade de conta e reserva de valor mundial. De volta a De Gaulle, esse era um dos pontos centrais da sua indignação.

Mas não paramos por aí. Já não é novidade que os bancos centrais, desde a crise de 2008, vêm praticando o afrouxamento monetário por meio do quantitative easing, numa tentativa de melhorar a liquidez e salvar os bancos de um colapso sistêmico. Por falta de margem para efetuarem política monetária de juros, posto que os mesmos estavam próximos de zero, os bancos centrais partiram para uma alternativa bastante heterodoxa: criar dinheiro eletrônico ou digital para comprar ativos e injetar liquidez nos bancos. E os números foram nada modestos. Com tamanha enxurrada de liquidez, o resultado não poderia ser diferente: quase 50% do PIB mundial atual opera com taxa de juros negativas no curto e médio prazos (vide tabela abaixo).

jurosnegativos

Juros negativos?

BCS

Sim, e Isso significa que ao deixar o seu dinheiro no banco, ao final do mês você terá menos do que o principal. Isso mesmo, você não entendeu errado, com juros negativos o seu saldo diminui ao final do período.

Claro que não demorou para alguns investidores pensarem numa solução bem caipira: retirar o dinheiro e guardar no cofre. Dessa forma estariam garantindo pelo menos o principal. Ao tentarem fazer isso, uma seguradora e um fundo de pensão Suíços, tiveram seu pedido negado pelos bancos.

Segundo artigo publicado pela Forbes, o Banco Central da Suíça desobrigou os bancos de atender a pedidos de saque de grandes quantias em espécie. Considerando que 80% do meio circulante atual é composto de dinheiro digital, não há como garantir a conversão integral do seu dinheiro em espécie… isso mesmo. Ou seja, o confinamento digital associado ao quantitative easing formaram uma catapulta imbatível para o crescimento expressivo da liquidez do sistema.

E a pergunta consequente não poderia ser outra: qual o tamanho disso? Segundo a Bloomberg e o Banco Central Europeu, hoje existe um estoque de US$ 13 trilhões de dólares em busca de algo que renda mais que zero. É fácil entender que investidores que aplicam em títulos com juros negativos não estão dispostos a correr riscos, mas quando alcança um volume dessa monta, o risco inerente obriga seus investidores/gestores a buscar alternativas.

Estoque de bonds

Com o aumento abismal da liquidez, segundo dados do BCE | Banco Central Europeu, os bancos centrais dos EUA, Japão (BoJ) e Inglaterra aumentaram em mais de 5 vezes os seus ativos… Como? comprando avidamente ativos dos bancos e ações de empresas listadas em bolsa.

Segundo o BCE, em seu Programa de Compras de Ativos (APP) foram estabelecidas metas quantitativas de € 80 bilhões por mês até final de 2018. E outros bancos centrais seguiram a banda. Segundo o economista Fernando Ulrich, “Quase US$ 1,8 trilhão é o valor das hipotecas no balanço do Fed. Sim, as notórias mortgage-backed securities (MBS, títulos lastreados em hipotecas) que quase quebraram o sistema bancário americano em 2008. O real valor de mercado desses ativos? Só Deus sabe”, nem tampouco se são marcadas a mercado… (grifo próprio). E complementa: “os Bancos Centrais são hoje um dos major players do mercado de ações”. Com operadores tão poderosos e um arsenal sem precedentes, ativos e ideias para todos os tipos e gostos ganharam as passarelas globais.

Não é à toa que o volume de dinheiro aportado como Venture Capital (capital de risco investido em startups e congêneres) vem batendo recordes históricos. Segundo o levantamento da Crunchbase News (tabela a seguir) foram mais de US$ 360 bilhões só em 2018. Ou seja, pouco mais de 3% do total do estoque represado em títulos com juros negativos.

Venture capital thru time

Prejuízo? Isso não tem problema…

Exatamente isso. O mundo corporativo não tem limites quando o motivo é criar razões para legitimar seus movimentos. Pra isso são rápidos em inventar modas bem mais ousadas que a indústria da alta costura. Antes da crise de 2008 a avaliação de uma empresa era fundamentada em múltiplos do seu EBITDA, (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que se apoia na capacidade da empresa de gerar caixa e lucro. Hoje as avaliações se dão com base no faturamento e capacidade de crescimento, independente da lucratividade (claro que na expectativa de grandes lucros no futuro).

Você seria acionista de uma empresa que dá 2 bilhões de dólares de prejuízo por ano? Pense bem antes de responder porque esse é o caso da Uber, Netflíx e WeWork, só pra citar algumas.

Talvez assim fique mais fácil compreender porque essas empresas continuam recebendo recursos generosos e contando com uma tolerância fraternal dos seus investidores. Isso sem falar nas milhares de outras startups (fintechs, helthtechs, proptechs, construtechs…) menos conhecidas que estão surfando nessa onda. Claro que existe um racional robusto e entregas igualmente relevantes (nem poderia ser de outras forma), mas será que teriam obtido investimentos notadamente expressivos, com um payback tão tolerante se não fosse esse universo de recursos sobrantes? Se você tem concorrentes sintonizados nesse canal, é melhor ficar atento…

O ponto omisso dessa festa é que, ao conhecer a origem desse capital e considerando que essas empresas precisam conquistar mercado a QUALQUER CUSTO, a configuração de dumping em alguns desses casos é patente. Para quem acompanhou mais profundamente a crise de 2008 ou assistiu ao filme “A grande aposta”, sabe que o mercado costuma cobrar caro por utopias coletivas como essa. Será que já pagamos a conta da crise de 2008? O mundo real pode tardar, mas sempre envia a fatura.

Retomando o mundo mágico do quantitative easing, será que é possível criar dinheiro digital infinitamente para garantir a “estabilidade” do sistema? Essas analises remetem inevitavelmente para um elenco de questões que poderiam integrar um genuíno debate no modelo socrático.

1. Até quando o dólar, os títulos do tesouro estadunidense, suíço e alemão serão depositários de absoluta confiança?
2. Quais as consequências do afrouxamento monetário (quantitave easing) praticado pelo Federal Reserve, Banco Central Europeu e Banco do Japão (BoJ)?
3. Qual o impacto desse alto nível de liquidez decorrentes dessas políticas?
4. Como os mercados estão lidando com essa liquidez e as taxas de juros negativas?
5. Qual a situação dos bancos centrais e do mercado após o entesouramento de ativos para socorrer o sistema financeiro desde a crise de 2008?
6. A redução das taxas de juros em decorrência do afrouxamento monetário (quantitativo) poderá consolidar um cenário de alto grau de endividamento e sobrevalorização de ativos?
7. Qual o real comportamento dos bancos centrais diante dessas inflexões?
8. Estamos diante de uma crise estrutural? Se há tanta injeção de liquidez por que noutra ponta falta liquidez?
9. Sobraram contas de 2008 para pagar?
10. Nós precisamos de uma moeda estatal?

De imediato é possível detectar alguns movimentos, correlacionados ou não, que chamam a atenção. Em março desse ano a China se desfez de US$ 20.5 bilhões de títulos do tesouro estadunidense. O China é o seu maior financiador, com mais de US$ 1,130 trilhão em Treasuries. Em segundo lugar vem o Japão, com US$ 1,072 trilhão. Em terceiro lugar, o Brasil, com US$ 307,7 bilhões… No gráfico a seguir é notável a inversão de posição do governo Russo, praticamente zerando sua posição em tesouro estadunidense e assumindo novas posições em ouro.

Reservas em ouro da Rússia.

Russia

É claro que esses movimentos dos russos e chineses estão diretamente ligados às sanções impostas respectivamente à Rússia em 2012 e à guerra comercial com a China patrocinada por Trump desde o início do seu mandato. No entanto, considerando todos fatores que rondam a discussão em torno das moedas, é um sismo que pode abalar os meridianos. Rumores de que a China pretende zerar sua posição em Estados Unidos é apenas um deles.

Noutra perspectiva convergente, o próximo gráfico demonstra que desde o fim do tratado de Bretton Woods (1971), o estoque de ouro vinha caindo até ser retomado após a crise de 2008. Segundo o WGC – World Gold Concil, o volume de ouro comprado pelos bancos centrais em 2018 foi o segundo maior desde 1967.

Reservas de ouro
Fonte: www.gold.org/goldhub/data

Se o mundo navega nessa prosperidade, se o dinheiro está sobrando e barato, se os mercados estão tranquilos com a paz que lhes reserva, por que os bancos centrais, senhores absolutos das suas políticas monetárias, estão aumentando suas posições em ouro? O que pensa a banca internacional?

Essas questões, aliadas às transformações digitais vigentes, sobretudo com o advento real da biotecnologia e da inteligência artificial, afloram uma preocupação de importância nuclear: será que os Estados ainda tem condições de gerir as suas moedas?

Embora estranho, esse debate ampliou seu sentido desde a consolidação do sucesso do Bitcoin. Construído sobre uma rede descentralizada (aqui reside o núcleo do seu poder embora críticas à sua real descentralização são plausíveis), a blockchain do Bitcoin conseguiu quebrar muitos paradigmas existentes e provar, inequivocamente, que é possível ter uma moeda digital confiável, completamente privada, gerida por uma rede colaborativa e à prova das políticas desastrosas dos estados. Sim, o Bitcoin e algumas altcoins vem provando isso há mais de 10 anos… Quando entendemos como funciona a blockchain, descobrimos, inevitavelmente, que o Bitcoin reúne as mesmas propriedades do ouro, estabelecendo um novo marco na teoria monetária contemporânea.

Isso não quer dizer que seja imune a críticas, a começar por sua proposta descentralizada que, na prática, não acontece da forma como foi concebida por Satoshi Nakamoto nem tampouco pregada por seus defensores. Sobre isso, e segundo a sua natureza atual, constata-se que apenas um seleto grupo de mineradores controla a criação de novos blocos da Blockchain e a evolução da própria rede. Isso não desmerece o feito, que já se provou imune a fraudes desde a sua gênese (não confundir com fraudes apuradas por exchanges e congêneres).

A magnitude da transformação proposta pelas criptomoedas ou criptoativos é imensurável. Constituindo um sistema econômico alternativo (peer-to-peer), traz consigo uma proposta de sistema bancário livre e independente do Estado, algo absolutamente impensável há poucos anos. Mas não é só isso. Permitindo transações financeiras sem intermediários, mas verificadas por todos usuários (nós) da rede, configura o melhor exemplo de uma estrutura sem uma entidade administradora central, inibindo qualquer autoridade financeira ou governamental de manipular a sua emissão, o seu valor e sobretudo, o de induzir a inflação com a produção de mais dinheiro. Isso não tem precedentes.

Bem, se o cenário atual conduz para um questionamento acerca da legitimidade das autoridades monetárias, acatar a possibilidade de ruptura desse padrão parece no mínimo razoável. No entanto, esse debate não é novo. O assunto já foi amplamente abordado pelo Prêmio Nobel de 1974, Friedrich Hayek, famoso economista austríaco que em seu livro A Desestatização do Dinheiro, já grifava que as vantagens das moedas competitivas (não estatais) não são apenas no sentido de que retirariam das mãos dos governos o poder de inflacionar a oferta monetária, mas também de que muito fariam para impedir as oscilações desestabilizantes que foram, no correr do último século de “ciclos econômicos”, precipitadas pelo monopólio governamental sobre o dinheiro, e também para tornar mais difícil para o governo aumentar excessivamente seus próprios gastos, já que esses aumentos se constituem num dos problemas mais cruciais da nossa era. Para Hayek, o papel-moeda fiduciário e de curso forçado (estatal) é uma criação nefasta do Estado, que esse dinheiro fictício é o responsável pelos ciclos econômicos, e que o livre mercado sempre escolheria uma commodity (como o ouro, ou poderia ser uma criptomodeda?) para ser a moeda-base de qualquer economia. Isso soa familiar? Os brasileiros sabem bem disso…

Se o Estado não tivesse o poder de emitir dinheiro, como estaria a gestão dos gastos públicos? E como seria a política sem o poder da moeda? E se o padrão de reserva internacional migrasse espontaneamente para uma moeda descentralizada no lugar das estatais? Sobre isso cabe outro pensamento de Hayek: “Fracionar ou descentralizar o poder corresponde, forçosamente, a reduzir a soma absoluta de poder, e o sistema de concorrência é o único capaz de reduzir ao mínimo, pela descentralização, o poder exercido pelo homem sobre o homem.“ — Friedrich August von Hayek

Um bom exemplo para ilustrar essa síntese é a Venezuela. O país é hoje o maior usuário da criptomoeda Dash, alternativa encontrada pela população para se proteger da hiperinflação de mais de 1.000.000% que assola o país. O Dash é amplamente utilizado tanto para pagamentos corriqueiros quanto por meio de ATM’s. e, convergindo com o exposto, um caso bem sucedido de uma moeda competindo com a do estado. Mas se a premissa da moeda estatal é a fidúcia, no caso venezuelano restará a ela apenas a força legal.

Não se pretende aqui introduzir qualquer apologia contra as moedas e nem tampouco aos Estados, mas apenas questionar o que nunca ousamos pensar. Dados macroeconômicos estão piscando em alertas que as vezes não queremos enxergar. Talvez nunca tenhamos presenciado elementos e condições tão reais e alinhadas na direção de rupturas estruturais. A reunião de fatores como os legados da crise de 2008, o quantitative easing, o comportamento dos bancos centrais e o avanço das criptomoedas, merecem a nossa atenção sob pena de não nos prepararmos adequadamente para que possa vir.

 

Ariano Cavalcanti de Paula

 

Velocidade das coisas.

Out | 2018 – O mundo está mudando rápido demais. Talvez esse seja o grande consenso no ambiente corporativo atual. E está tão rápido que estamos vivendo a era da ansiedade coletiva. Pesquisadores de diversas universidades europeias e norte-americanas registram que os executivos e empreendedores estão enfrentando enorme dificuldade em lidar com as incertezas de um presente instável e de um futuro incerto. A velocidade das mudanças aniquilou o conforto típico dos cenários previsíveis.

Alguns autores atribuem essa ansiedade à velocidade das coisas e não somente das mudanças, posto que o mundo sempre evoluiu. Ocorre que, numa evolução exponencial, o ritmo aumenta em ciclos de curvas mais íngremes, a exemplo da Lei de Moore que está praticamente quebrada por essa mesma razão. Só para lembrar, a previsão de Moore era que o número de transistores que cabe em um chip deveria dobrar a cada 18 meses, mantendo o mesmo custo, o que de fato ocorreu. Para ilustrar, segundo a Intel, se no início da década de 70 existisse um celular capaz de rodar o sistema operacional iOs, só o processador ocuparia a vaga de um carro.

Noutra vertente, alguns atribuem essa ansiedade à globalização. No entanto, dizer que o mundo está globalizado ficou tão antigo quanto dizer que uma empresa tem um site na internet. O mundo é globalizado desde as mais antigas migrações e colonizações. Basta lembrar que os chineses e etruscos rodaram o planeta antes do século XIV. O que vivemos hoje é o fenômeno da hiper conexão, que conecta os mercados e a sociedade em tempo real. A velocidade da comunicação é o que difere o mundo globalizado do mundo em modo online, estabelecendo um novo patamar para as relações humanas e comerciais.

Não importa a teoria, o fato é que saímos de uma esteira de evolução previsível e linear para outra exponencial e volátil, o que muitos preferem chamar de Mundo V.U.C.A. Pela primeira vez, além da quebra da lei de Moore, o volume e a relevância das mudanças que aconteciam em mais de 100 anos passam a ocorrer no transcurso de uma mesma geração. Em seus livros Sapiens e Homo Deus, Yuval Harari compartilha uma percepção semelhante, propondo que a revolução compreendida pela biotecnologia trará, brevemente, processamentos que ultrapassarão a velocidade do cérebro humano, rompendo grande parte das referências atuais. A inteligência artificial (com o prudente cuidado de não confundir com automação robótica) está prestes a tonar-se escalável, assumindo de fato diversas funções humanas. Pela primeira vez na história escrita veremos crianças que não terão um cardápio de profissões a escolher para o futuro. Não por falta de opções atuais, mas por não saberem quais serão as profissões existentes ao alcançarem a idade ativa.

A revolução da biotecnologia, que compreende o entendimento profundo do comportamento das pessoas (que hoje já é realizado por diversos meios: rede sociais, navegadores web dentre outros) associado às medições biológicas (que já existem em diversos dispositivos de forma oculta) permite a empresas como Google, Apple, Facebook e outras, a nos conhecer melhor que nós mesmos. Lembram-se do ZMOT (Zero Moment of Truth)? Voltando ao Harari, essa revolução caminha para romper a “caixa preta” da individualidade humana, ou seja, o livre arbítrio estará sujeito ao viés dos algoritmos e às influências daqueles que nos conhecem melhor do que nós.

A velocidade das coisas, compreendendo uma escalada do processamento inteligente, da compreensão avançada da complexidade humana e da supressão de atividades laborais, é impulsionada em solo fértil por Peter Diamandis (co-fundador da Singularity University), em sua teoria da abundância, onde insumos anteriormente escassos e, via de regra geradores de riquezas, tornam-se abundantes. Para citar alguns: energia, dinheiro, tempo, recursos e água. Sim, a água! Novas tecnologias de captação de luz solar estão derrubando o custo da produção para quase zero. O excesso de liquidez mundial já criou inúmeras plataformas de créditos P2P ou seja, direto entre tomadores e fornecedores, quebrando o monopólio da banca internacional. Novas nanotecnologias (como a SlingShot) de dessalinização da água do mar estão crescendo e barateando de forma exponencial. Segundo Diamandis, “a escassez é contextual, e a tecnologia é uma força liberadora de recursos”. Para ilustrar, o alumínio foi um elemento mais raro e bem mais caro que o ouro e a prata até que o processo da eletrólise, descoberto por Paul Lois Toussaint Héroult e Charles Martin Hall em 1886, promovesse o barateamento da sua produção e o tornasse um dos metais mais abundantes do planeta. Alguém naquela época poderia prever essa inversão?

Associando a questão da abundância à velocidade das mudanças, Diamandis propõe um gráfico que denomina de Curva 6D, onde o processo de uma inovação cresce exponencialmente em seis etapas: Curva 6Ds

Onde:

1) Digitalização: é o processo de transformação digital, remetendo processos analógicos para digitais como o ocorrido com a fotografia.

2) Decepção: é o período do “mormaço” quando, por sua incipiência, a tecnologia ainda é desacreditada, menosprezada e tem pouca repercussão. A impressão 3D foi assim por muito tempo e hoje vivenciamos algo semelhante com as criptomoedas.

3) Disrupção: Quando a nova tecnologia supera o paradigma anterior em eficácia e custo. Exemplos: fotografia digital, transporte por aplicativos, celulares etc.

4) Desmaterialização: Quando o produto ou solução antiga sucumbe ao produto de uma inovação. O celular é um dos melhores exemplos. Sobrepôs o GPS, a calculadora, o videogame, o rádio, câmera fotográfica e outros.

5) Desmonetização: No início, o produto da inovação tende ser caro mas seu preço vai caindo exponencialmente. As máquinas fotográficas digitais sobrepuseram os filmes, que caíram em desuso e perderam valor. Outros exemplos: celular, computadores, internet.

6) Democratização: é o ponto em que tecnologia torna-se acessível a uma grande massa da população. O smartphone pode ser um grande exemplo, ele integra diversas funções que há pouco tempo eram um luxo restrito a poucos.

A proposta de Diamandis coincide com outras constatações, reafirmando a percepção de que as empresas não conseguem acompanhar a evolução tecnológica, gerando um descompasso relevante em relação ao mercado. Esse GAP de performance resulta numa janela de oportunidades para startups e novos concorrentes. A figura abaixo, resultado de uma pesquisa da Deloitte University, demonstra como a velocidade das mudanças está produzindo um flanco de exposição para grande parte das organizações.

Velocidade das mudanças

Nesse GAP tecnológico aparecem várias iniciativas focadas na desintermediação de mercados. Embora a maioria não feche a conta, a sedução do argumento da escalabilidade relembra o início dos anos 2.000, quando uma onda de empresas de tecnologia abriram capital, venderam ilusões mas não se concretizaram. Parece que cultuamos uma tendência de viajar aos extremos, celebrando a desintermediação como a palavra de ordem. Seria o fim do “midle man” ou a sua recriação em novas vestes? Seria o mundo totalmente digital a melhor alternativa?

Conveniência

Paradoxalmente, num momento em que o lema “quero usar, não quero possuir” se estabelece como o novo paradigma, o produto conveniência reluz como a grande descoberta do milênio. De olho nesse filão, as economias colaborativas e compartilhadas convergem para esse ponto. As agências de turismo que souberam se adaptar e passaram a oferecer serviços de conveniência relevantes, conseguiram mitigar o forte processo de desintermediação que assolou o setor. Movimento semelhante já ocorre nos mercados financeiro, educacional e imobiliário. Existem empresas que administram imóveis que estão ofertados no Airbnb, justamente porque os proprietários não desejam lidar com os aborrecimentos cotidianos da sua gestão.

Ainda sobre os extremos, a proposta do Figital, resultado da união dos mundos físico e digital, vem constituindo uma estratégia relevante para o enfrentamento da digitalização a qualquer preço. A moderação e o alinhamento com as expectativas reais do consumidor parecem prevalecer mais uma vez. Felizmente.

O fato é que a dificuldade de acompanhar todas as mudanças associada à teoria da escassez contextual, coloca todo negócio indistintamente sob ameaça, exigindo uma vigilância constante. As palavras startup, inovações disruptivas, digitalização e desintermediação de mercados soam como um trovão, amplificando a ansiedade coletiva que permeia o mundo corporativo.

A boa notícia é que nem só de digital e startups vive o mundo, pelo contrário, quem de fato segura a onda da economia mundial são as empresas estabelecidas e lucrativas que conseguem se adaptar aos desafios. Como inovar é caro, os casos de maior sucesso residem naquelas organizações que aproveitam as interconexões para promover a inovação de forma colaborativa, como incubadoras, coworking de startups ou especialmente as integradoras, conectando parceiros estratégicos numa rede de negócios em que todos ganham escala e produtividade.

Ao que parece a velocidade das coisas não deve mudar, pelo contrário. Aos empreendedores caberá o desafio de reunir mais habilidades, sobretudo a sabedoria de lidar com as novas regras, trocando a ansiedade pelo foco em agregar conveniência para os seus clientes. Num mundo em aceleração, as pessoas tenderão a demandar cada vez mais por produtos e serviços que lhes poupem tempo e resultem numa clara percepção de ganho de qualidade de vida.

Ariano Cavalcanti de Paula

Blockchain e o mercado imobiliário. O que temos de concreto.

Ago | 2018 – A tecnologia blockchain vem despertando a atenção de vários mercados e por uma razão muito simples: ela pode ser a grande inovação depois da internet. Mas para acatar ou não essa hipótese é fundamental compreender o conceito e como ela funciona.

Embora diretamente associada às criptomoedas, a blockchain tem um vasto campo de aplicação onde as moedas digitais são apenas um deles. Em tese, a blockchain, ou cadeia de blocos, funciona como um livro-razão público, aberto, compartilhado e distribuído onde as informações registradas são vinculadas e imutáveis, estabelecendo uma relação “trustless” (independente da confiança ou da validação de terceiros), segura e direta entre duas ou mais partes. Ou seja, em muitos casos (mas não em todos) a blockchain permite transações entre pessoas sem a necessidade de intermediários.

Pode parecer um conceito ambicioso mas o Bitcoin, com seus nove anos de existência, mais de 250 mil transações por dia e mais de 30 bilhões de dólares negociados por mês, é uma prova incontestável da robustez e confiabilidade dessa tecnologia. Isso sem contar que ao longo desses anos a blockchain do Bitcoin sofreu inúmeros ataques e tentativas de fraude, mostrando-se, no entanto, resiliente, incorruptível e confiável, consolidando uma reputação da qual muitos duvidavam.

Mas olhar de fora não vale. Entender como ela funciona é fundamental para respeitar a sua imponência. Existem vários sites, artigos e até cursos de pós-graduação sobre o assunto. No entanto, o site https://anders.com/blockchain/ é notável em sua capacidade didática, demonstrando facilmente como criar e minerar um bloco, como funciona o hash, o encadeamento e a vinculação desses blocos. Por meio do seu simulador fica fácil entender como é possível encriptar qualquer conteúdo (um texto, um documento, uma música, um valor ou um imóvel) e como ele fica imutável numa blockchain. A partir dessa compreensão, imaginar o arsenal de aplicações para o mercado imobiliário é uma consequência ululante.

Existem vários projetos e ideias para o mercado imobiliário, mas alguns chamam a atenção pelo consenso em torno das suas promessas:

• Universalização do título de propriedade. Depende de uma longa esteira legal mas pode proporcionar ampla transparência ao mercado, aumentando enormemente a sua liquidez.
• Tokenização dos imóveis transformando-os em ativos líquidos e permitindo o fracionamento da propriedade e a derivação em outros ativos.
• Com a tokenização do imóvel torna-se possível implantar os contratos inteligentes (autoexecutáveis) e ampliar o mercado de recebíveis de aluguéis.
• Crowdfunding (financiamento colaborativo) para incorporações ou refinanciamento de imóveis prontos.
• Tokenização dos imóveis para gameficar o processo de captação de imóveis – projeto em estudo pela Netimóveis.

Dubai Bloockchain StrategySão transformações estruturais profundas e por isso encontram fortes barreiras legais e comerciais. No entanto, frear esse avanço parece uma tarefa hercúlea para qualquer governo. Enquanto isso, o Dubai Land Department (DLD) anunciou a adoção da blockchain como banco de dados dos registros de imóveis e suas transações, incluindo os contratos de financiamentos e seus respectivos tributos e taxas. Tudo previsto para rodar até 2020. O projeto, chamado de “Dubai Blockchain Strategy” é conduzido pelo Xeique Hamdan Al Maktoum e faz parte do “Smart Dubai”, assentado sobre três pilares nada modestos:

1. Eficiência governamental: 100 milhões de documentos deixarão de ser impressos e circularão digitalmente pela blockchain economizando 25 milhões de horas no processamento desses documentos;

2. Estímulos à criação industrial: com o ambiente criado pela “Dubai Blockchain Strategy” milhares de empreendedores serão atraídos e estimulados a sediar suas indústrias e empresas, notadamente aquelas dos setores imobiliários, fin-techs, bancos, transportes e turismo.

3. Liderança internacional: o governo de Dubai anuncia que irá abrir sua plataforma blockchain para parceiros globais para aumentar a segurança e a conveniência para viajantes internacionais em Dubai. Com maior mobilidade e segurança, espera-se atrair novos empreendedores e investidores em busca de um mercado promissor e transparente.

Em relação ao mercado imobiliário o projeto prevê ainda que, além dos registros, serão incorporadas também as informações dos inquilinos, incluindo identidade e validade do visto, permitindo a renovação do contrato e o pagamento eletrônico dos aluguéis. Segundo o DLD, todas as transações ocorrerão por meio da rede blockchain, transformando Dubai no primeiro governo a implantar integralmente a tecnologia. O que não fica claro nos materiais oficiais divulgados, é o tipo de blockchain que será utilizada, se pública ou privada e qual a plataforma. Resta aguardar para ver.

IbreaIdeias e promessas não faltam, mas o que temos realmente de concreto? No site da IBREA | International Blockchain Real Estate Association – provavelmente a primeira entidade criada para estudos da blockchain para o mercado imobiliário, fundada em 2013, registram-se importantes trabalhos nessa direção, mesmo assim, dos 30 artigos publicados ainda não há um caso efetivo rodando em escala relevante. A primeira exceção poderá ser atribuída à Brickblock que afirma ter captado mais de um bilhão de dólares para investimentos em imóveis fracionados (quando várias pessoas investem em diferentes frações de um mesmo imóvel) baseado em contratos inteligentes sobre a plataforma do Ethereum. Segundo o seu diretor, os aportes podem ser de US$ 6.00 a US$ 6 milhões, ampliando exponencialmente a liquidez de um imóvel. Noutra ponta, as experiências com cartórios são relatadas na Suécia e em Pelotas no Brasil. No caso sueco, o que há de publicado não informa precisamente como está funcionando nem tampouco como são validados os registros. No caso brasileiro, a experiência de Pelotas é relatada com detalhes no artigo “Registro de transações imobiliárias em Blockchain no Brasil (RCPLAC-01) – Estudo de Caso 1” (Victoria Lemieux – University of British Columbia – Vancouver – Jan 2018). O artigo deixa claro que o caminho para algo concreto ainda requer muita quilometragem.

Essas constatações convergem com o relatório publicado pela Forrester Research (Dez, 2017): “Previsões 2018: Esteja preparado para enfrentar as realidades por trás da blockchain Hype. Os visionários irão perseverar, enquanto aqueles que esperam por soluções rápidas desistirão”. Logo de início o artigo registra uma constatação com a qual muitos já concordam: “Nunca tantas pessoas procuraram tanto por uma Forrestertecnologia compreendida por tão poucos”. De fato, a dificuldade na compreensão correta do potencial e dos desafios desta tecnologia, está induzindo a uma euforia que resulta em muita espuma e poucos resultados.

No âmbito prático, algumas perguntas precisam ser respondidas antes de optar por uma blockchain:

1. Será uma blockchain aberta ou pública (puro sangue) ou fechada, privada ou permissionária?
2. Como serão as validações dos blocos e qual o custo?
3. A tecnologia está madura para a minha aplicação?
4. O resultado irá conferir realmente mais segurança e transparência que uma solução convencional?
5. Faz sentido adotar uma blockchain em ambientes necessariamente controlados?
6. Se for uma blockchain privada, qual interesse moverá os participantes para garantir a integridade da rede?

Em síntese, quando se trata de uma blockchain pública, como no caso da rede Bitcoin, o seu componente game concebe, de forma genial, a vitalidade de uma rede distribuída, garantindo a força e o interesse econômico essenciais para a sua efetividade. Entretanto, quando se pensa em algo privado, mesmo em larga escala como no caso dos cartórios, a análise requer muita prudência. De tudo que se vê, depreende-se que a curva de aprendizado é mais íngreme que o imaginado. No mesmo relatório da Forrester, a pesquisadora conclui: “Regra geral: nunca, nunca vá para uma arquitetura baseada em blocos quando um banco de dados relacional fará o trabalho melhor”, (Martha Bennett, Forrester Research – Dez, 2017). Ou seja, para alguns nichos, as vantagens e a viabilidade da blockchain parecem muito claras, mas não é o que parece ocorrer em grande parte das ideias propagadas. Sem dúvida, a proposta de Dubai poderá estabelecer as razões e ser um marco importante na concretude do tema.

 

Ariano Cavalcanti de Paula