Jul | 2016 – A nossa adoração pelo estrangeiro é tão desmedida que beira o insano ou, como disse o conhecido professor de português Pasquale Cipro Neto, o “Excesso de estrangeirismos reflete subdesenvolvimento” e completa: “A interpretação de palavras, de uma língua para outra, é um processo inevitável, incontrolável e inofensivo, desde que não se chegue ao idiotismo, à imbecilidade, à manifestação explícita de subdesenvolvimento cultural, de colonialismo.”
É fato. No mercado imobiliário a submissão é tão ou mais explícita que em outros segmentos como o financeiro e o de TI. Qual seria a razão para utilizar a expressão home theatre? É chique? Não poderíamos dizer sala de tv ou sala de cinema? Mas o pior não é o nome. O trágico é que poucos (muito poucos) corretores e incorporadores conseguem pronunciar corretamente o termo. E os exemplos não param por aí. Os empreendedores brasileiros adoram “enfeitar” os seus produtos com nomes difíceis como, Ed. Maison La Frontière, Sur La Cité, Pinot Noir, Attualitá, Choice, South Miami e por aí vai.
Essa desvalorização da nossa língua está diretamente ligada aos valores que estabelecemos para o nosso país. Temos uma cultura rica e exuberante. A nossa música, a nossa arte, o nosso esporte e vários outros valores são reconhecidos mundialmente. Mas por que somos tão pouco orgulhosos de ser brasileiros? Será que o ranço colonial não saiu da nossa alma? Temos problema de autoestima?
A transformação de um país começa pela mudança das posturas individuais, pela conscientização de quem somos e do que somos capazes. Alguma vez você já pensou por que chamamos os estadunidenses de americanos? Por que renunciamos até mesmo à nossa continentalidade? Tudo isso pode parecer um pieguismo mas são das atitudes (pequenas ou não) que nascem as grandes revoluções.
Se desejamos mudar o Brasil para melhor, precisamos, antes de mais nada, compreender o que falamos e o que queremos. Sou um brasileiro convicto de que podemos ser tão bons quanto os norte-americanos, os europeus ou qualquer outro. Basta querer.
Ariano Cavalcanti de Paula