Blockchain e bitcoin. O que eles tem a ver com o mercado imobiliário.

Blockchain e bitcoin. O que eles tem a ver com o mercado imobiliário.

Out | 2017 – Venho estudando a blockchain do bitcoin há algum tempo e confesso, entendo perfeitamente quando as pessoas dizem que é complicado. Esse desconhecimento tem levado a maioria a tratar o assunto como uma aventura digital, efêmera e insustentável. No entanto, quando se aprofunda no seu entendimento, compreende-se rapidamente que estamos diante da maior revolução digital depois da internet.

Vamos começar pelo bitcoin. Como ele representa mais de 50% do total negociado mensalmente dentre todas moedas digitais (já existem mais de 1.000), é sem dúvida uma amostra legítima para esse estudo. Atualmente o Brasil negocia mais de 800 milhões de reais em bitcoins por mês, o que já é maior que mercado de ouro futuro na BM&F. No mundo, o volume mensal passa dos 28 bilhões de dólares. Pode não ser muito, diante do volume global de transações convencionais, mas está longe de ser algo irrelevante. Hoje existem várias exchanges (sites de câmbio de bitcoin e outras altcoins) e diversos mecanismos de pagamentos com essas moedas. É possível inclusive trocar bitcoins por um cartão pre-pago em dólar, euro e outras moedas no exterior. No Brasil e no mundo existem incontáveis estabelecimentos que aceitam as criptomoedas. Estamos falando de uma realidade incontestável.

Volume de bitcoins | mundo

 

Mas o que é o bitcoin? Foi essa pergunta que me moveu em sua direção. Acolhendo as mais diversas definições encontradas pela internet afora e pelos poucos livros sobre o assunto, consegui sintetizar a seguinte proposta de conceito:

Bitcoin é um conjunto de protocolos e algoritmos abertos e de livre acesso que, por meio da sua blockchain, estabelece uma rede global e descentralizada de notarização de transações. Esse processo ocorre de forma transparente, contínua e auto auditável, estabelecendo um consenso de que colaborar é mais lucrativo que trapacear.

Noutras palavras, trata-se de um software aberto, que qualquer um pode baixar, usar e conferir, que utiliza o princípio dos dígitos verificadores (hash) semelhante ao que é feito para os nossos CPF’s. No entanto, em vez de usar dois dígitos no DV (dígito verificador) a blockchain do bitcoin utiliza até 77 dígitos, alcançando uma margem de erro próxima de zero. Isso tornou possível estabelecer uma chave única, sem repetições que, encadeadas, podem estabelecer uma sequência inviolável de informações. Cada novo código calculado torna-se um bloco que sempre referencia o número do bloco anterior, até chegar ao bloco gênese. A essa sequência de blocos únicos e invioláveis da-se o nome de blockchain. Ocorre que para calcular esses códigos, o consumo de processamento de dados e energia elétrica é colossal. Por isso, tal qual o ouro, o bitcoin é um produto raro e escasso, requerendo enorme esforço para encontrá-lo. Daí surgiu a expressão “minerar” os bitcoins, onde os mineradores são recompensados pelos códigos válidos encontrados. Motivados pelo ganho, o interesse dos mineradores se encarregou de alastrar os nós da rede, garantindo segurança, legitimidade e credibilidade que resultaram nos volumes atualmente negociados.

Essa rede descentralizada, criada pelo crescimento dos nós de processamento, é capaz de auditar, de forma transparente (posto que todos podem assisitir), todas as transações, constituindo um livro caixa aberto e reconhecido pela sua capacidade de notarização das transações em curso. O ponto máximo do conceito está no mérito de consolidar o consenso de que é muito melhor minerar e auditar do que trapacear. Ou seja, a energia despendida para o bem da rede é mais lucrativa que jogar contra.

Mas a despeito de todo sucesso da rede Bitcoin, talvez o que mais interessa é a tecnologia da blockchain. Cabe lembrar que tudo que conhecemos pode ser representado em números. Isso significa que podemos encontrar códigos digitais (hash ou identidades digitais) de tudo: músicas, imagens, voz, documentos, imóveis… Ou seja, é possível construir uma blockchain para proteger os direitos autorais de uma música, uma obra de arte ou para transformar o imóvel num ativo líquido, conferindo-lhe maior liquidez decorrente da informação absoluta. Inúmeros estudos já estão em curso nesse momento.

BitcoinsBuildings

Outras aplicações importantes estão ocorrendo, como em contratos, registros de imóveis, de automóveis etc. Entretanto, nem tudo é maravilhoso no mundo das blockchains e das criptomoedas. A lista de contestações ao bitcoin é interminável. Desde a descrença na segurança da rede e da imutabilidade dos protocolos, à legitimidade do sistema. Acatando que o futuro será o único senhor dessa razão, resta-nos respeitar a inequívoca aplicabilidade que as blockchains terão em nossas vidas. Ademais, cabe considerar outros questionamentos igualmente relevantes:

• Risco de surgimento de cópias das moedas existentes | altcoins
• Risco de desinteresse da rede após o fim das minerações
• Uso da moeda para lavagem de dinheiro, terrorismo e outros crimes
• Risco da guarda da moeda (senha)
• Imaturidade do sistema
• Assédio dos governos na tentativa de regulamentar esses mercados

De qualquer maneira, a revolução proposta por essa tecnologia é presente e incontestável. A internet promoveu o meio para fluir diversas inovações latentes, agora resta-nos descobrir como tirar o melhor proveito delas.

 

Ariano Cavalcanti de Paula